domingo, 16 de agosto de 2009

The Angel

Alguém uma vez disse
“Para falar ao vento bastam palavras, para falar ao coração são necessárias obras”

Até um certo dia andava sempre a falar ao vento, falar para ele é fácil. Ouve-nos quando precisamos.
Ele acariciava-me a face, soltava-me os cabelos e sussurrava-me ao ouvido em sinal de resposta
Uns dias trazia maresia, outros dias trazia folhas coloridas, noutros o devastador som da chuva e noutros dias trazia o doce perfume da Primavera.
Eu falava-lhe de tudo, contava-lhe histórias, falava dos meus sonhos e sussurrava-lhe os meus segredos. Para mim, o vento era um amigo.

Um dia parou de responder… Então entrei em pânico.
E agora, com quem ia eu falar? Com quem ia partilhar aquilo que gostava? Com quem ia contar?
O vento respondeu-me uma última vez e empurrou-me…
Mais uma vez parou…
Mas foi aí que a vi, a mais bela obra de arte que alguma vez vira.

O meu coração acelerou o ritmo. Saltava desenfreado no meu peito.
Comecei a andar na sua direcção.
Ela olhou para mim… O meu coração parou.
Quem seria aquela jovem que me prendeu a vista e me fez esquecer o vento?
Nunca tinha esquecido o vento antes. O vento não me ouvia mais.
Tentei falar ao meu coração mas também ele não me respondeu. Por vezes o coração prega-nos partidas.
Parei… temi pela reacção.
Ela levantou-se e olhou para mim. Começou a andar na minha direcção.
A certo ponto também ela parou.

Virei-me…
Respirei…
Olhei o sol no horizonte…
O mar tinha parado.
O respirar da Terra tinha cessado.
Tudo à volta parecia uma pintura em tela onde imaginamos tudo em movimento.
E voltei-me novamente na sua direcção… dos meus olhos saíram lágrimas.
Ela já se encontrava ao pé de mim.
Conseguia respirar o seu perfume…
Ouvir a sua respiração…
Sentir a sua pulsação.

Estendeu-me a mão e eu agarrei-a.
O Mundo estremeceu
Mas depois o vento falou-me outra vez…
Por momentos fiquei sem a ver…
O meu coração rebentava de tristeza.

Senti-me tão mal
Corri em todas as direcções fugindo do vento. Esperando que voltasse a ver aquela jovem.
Chorei de medo de a perder.

Triste, escondi-me por entre as sombras do passado, pesadelos esquecidos.
Na minha cabeça começava uma tempestade, no meu coração os trovões rebentavam ferozes.
Na minha face corria um riacho que teimava em não cessar.
Mas nos meus olhos ainda existia um brilho, um brilho de esperança.

A tempestade teimava em não acabar. Parecia que ia piorando há medida que o tempo passava.
A minha cabeça latejava de tanto ribombar.
O meu coração sangrava de sofrimento.
Os meus olhos choravam de tristeza.

Levantei-me por fim do meu esconderijo.
O vento parou
A tempestade acalmou
O sol começou a brilhar outra vez.
As nuvens desapareciam lentamente no céu.
Tudo voltava ao normal, mas ainda a via destorcida nos meus olhos.
Mal a conseguia ver.

Foi então que a sua voz sussurrou nos meus ouvidos.
O brilho de esperança limpou-me a visão.
Já conseguia ver nitidamente.
E mais uma vez… lá estava ela, de asas abertas, alma de um anjo…
De mão estendida para me agarrar de novo.
Agarrei-me a ela com ainda mais força que da primeira vez.
Desta vez não foi só o Mundo que tremeu…
Terra, Céu, Sol, Mar, todo o Universo dos nossos sentidos…
Debaixo dos pés deixei de sentir o chão.
Voando em direcção ao infinito do céu… tudo parecia divino.
Aterrámos num Mundo só nosso, onde ninguém nos poderia separar
Onde ninguém nos pudesse ver.
Onde finalmente pudesse viver sabendo que sentimentos correm em mim.
Mais uma vez soltei lágrimas ao olhar os seus olhos. Olhos puros por onde se podia ver toda sua alma e o seu coração. Lágrimas de alegria que nunca soltara.

Quis dar-lhe um abraço… um daqueles que não mais acabasse. O abraço merecido.

Mais nenhuma tempestade se meterá no nosso caminho.
Nós somos o barco que vence à força do mar
Somos a árvore que se mantém firme ao chão no meio do temporal
Somos um
Uma vida
Uma só pessoa.
As mesmas asas que continuarão a voar por todo o lado.




Amizade

Felicidade..
Amizade..
Ternura..
Carinho..
Atenção…

Por vezes pensamos..
Que sentimentos são esses? Será que os sinto? Ou será que simplesmente os deixei de sentir?

Por vezes pensamos..
Que poderei eu fazer para ser feliz? O que é a felicidade afinal? Será que depende só de nós?

Pensamos também..
Quando terei eu um momento de ternura? Um momento de carinho? Um pequeno momento de atenção?

Atenção?
O que será isso?
Oferecermos o nosso ombro? Vermos as lágrimas de quem gostamos? Apoiar e ouvir aqueles que precisam?
Então e nós? Então e eu?
Quem me dará atenção?
Quem estará presente para me dar o ombro como já fiz?
Quem verá as minhas lágrimas a cair pelo rosto quando tudo parece perdido?
Quem estará connosco para nos ouvir e dar um abraço?
Um abraço… simples gesto de tanto sentimento.
Quem o fará por mim como já o fiz?

Mas depois penso…
Saltei um ponto. Saltei um sentimento…
Amizade.
É essa a resposta.
São eles que nos abraçam..
São aqueles que realmente se preocupam connosco.
São eles que tornam o Mundo algo melhor..
São eles que fazem com que o perdido volte a esconder-se nas sombras e nos voltemos a encontrar.
São eles que nos limpam as lágrimas que nos cobrem o rosto.
São eles que nos dão atenção quando nos sentimos realmente sozinhos, presos a pesadelos, a tempestades do passado, afogados em mágoa e solidão.

Amigos nunca se esquecem..
Amigos nunca se perdem..
Amigos nunca nos deixam..
Será mesmo assim a amizade?